Tratamento íntimo é indicado tanto para fins de saúde e bem-estar quanto para atender demandas estéticas

Dos porões da pornografia para os salões nobres dos museus, a trajetória do quadro “A Origem do Mundo”, de 1866, do pintor Gustave Courbet, um dos expoentes do realismo francês, é emblemática de como a apreciação de uma obra está relacionada aos valores morais vigentes no tempo e no lugar de seu surgimento. Se antes era exibida com alguma excitação, ocupando cômodos remotos na casa de colecionadores, agora, já consagrada, a pintura – que foge de idealizações ao representar a genitália de uma mulher – é exposta com destaque no Museu d’Orsay, em Paris, na França.

Assim como aconteceu com “A Origem do Mundo”, houve também, ao longo dos anos, uma mudança de perspectiva da sociedade em relação ao objeto representado na obra. “Principalmente nas últimas décadas, passamos a conviver com maior liberdade sexual. E, mais recentemente, com a internet, o contato com a imagem dos genitais se tornaram mais frequentes, muitas vezes por meio da pornografia”, comenta a dermatologista Marília Machado. Ela acrescenta que, além disso, têm se tornado mais comum o sexting, conversas virtuais em que as pessoas trocam mensagens, imagens e vídeos com teor erótico e sexual.

“Esse conjunto de fatores tem feito que mais mulheres conheçam, vejam e explorem suas vaginas”, relata a especialista, complementando que ter mais intimidade com o próprio sexo tem se refletido em um aumento na busca por tratamentos na região. E aqui vale contextualizar que, mais de 150 anos depois, apesar de a apresentação do corpo da mulher ter deixado de ser algo até mesmo ritualístico, as idealizações estéticas evitadas por Courbet seguem prosperando. Tanto que os procedimentos íntimos ficaram mais conhecidos sob pretexto de serem técnicas de “rejuvenescimento vaginal”, um termo que Marília prefere evitar. “Por não se tratar de algo somente estético, prefiro usar a expressão ‘tratamento íntimo’”, explica.

Fato é que essas intervenções estão cada vez mais na moda. E não só o advento da internet – que ampliou as possibilidades de observação da vagina do outro, na pornografia, ou da própria, no sexting – explica o fenômeno. “Soma-se a isso a realidade de uma vida sexual mais prolongada, que se estende inclusive para depois do climatério (transição fisiológica do período reprodutivo para o não reprodutivo e que abrange a menopausa, que ocorre com a última menstruação)”, explica, informando que, nessa fase, por conta da interrupção da produção de estrogênio, o canal vaginal tende a ficar mais ressecado. Além disso, pode haver a ocorrência de incontinência urinária – um problema comum também após a gestação.

Nesses casos, podem ser indicadas terapias com uso de laser Erbium fracionado, que provoca o estímulo, contração e remodelação do colágeno. “É uma alternativa para melhorar a hidratação da região e que reduz a flacidez do tecido”, comenta Marília.

Em média, todo o processo exige de três a cinco sessões mensais. Posteriormente, uma sessão anual é recomendada.

Em pessoas mais jovens, o procedimento pode ser indicado no caso de algumas infecções bacterianas, como a candidíase e a vaginose, que são origem comum de desconforto na região.

Estética. Do ponto de vista estético, além da depilação, que é preferência da esmagadora maioria das brasileiras e dos brasileiros, Marília Machado cita que outras diversas intervenções têm entrado na mira da população. Caso do clareamento da vulva, quando se recorre a técnicas como o uso de laser e o peeling. O objetivo dos procedimentos é remover as camadas danificadas da pele e promover o crescimento de uma camada lisa, mais elástica, suave e fresca, através da renovação celular.

Mirando o combate a rugas e à flacidez da parte externa da vagina, a dermatologista explica que pode-se optar por técnicas que vão estimular a ação do colágeno como a radiofrequência e o uso de ácido hialurônico.

Esses tratamentos também exigem, em geral, até cinco sessões mensais para que os objetivos sejam alcançados, com recomendação de uma sessão anual para fins de manutenção.

Marília alerta que os tratamentos são contra-indicados no caso de a pessoa apresentar doenças ginecológicas.

Pesquisa. Segundo o estudo “Os estigmas da vagina”, divulgado em 2020 e realizado pela Intimus, marca da Kimberly-Clark Brasil, em parceria com a Nielsen Brasil e a Troiano Branding, até 15% das brasileiras não têm costume de olhar para o próprio órgão sexual. Por outro lado, 52% disseram olhar para a genitália todos os dias. O levantamento ainda indicou que 68% não estão satisfeitas com a vagina.

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